MULHER DO REINO: O FRUTO DA MULHER DO REINO - POSSIBILIDADES - PARTE 3
A MULHER DO REINO E SUA IGREJA
Após o culto, gosto de saudar os visitantes e aqueles que comparecem assiduamente à minha igreja. Há sempre uma fila de pessoas para me cumprimentar ou fazer um comentário sobre a mensagem do dia. Contaram-me a história de um pastor que, em um culto especial, notou a presença de uma senhora que aparecia apenas esporadicamente. Após o culto esse pastor disse:
— Você vem aqui de tempos em tempos. Seria uma boa ideia se você ingressasse no Exército do Senhor e viesse com mais frequência.
A mulher replicou:
— Já pertenço ao Exército do Senhor, pastor.
— Bem, então por que eu só a vejo aqui no Natal e na Páscoa?
Ela então sussurrou:
— É que eu faço parte do Serviço Secreto.
Esse tipo de situação acontece o tempo todo. Encontrar alguém com um verdadeiro compromisso de comparecer à igreja é um desafio. Com tantas coisas competindo por nosso tempo e atenção, a frequência regular à igreja deixou de fazer parte da lista de valores de muita gente, sem falar no real envolvimento com a congregação.
O oposto, porém, também é verdadeiro.
Encontramos pessoas que comparecem fielmente à igreja por muitos anos, até décadas, mas a vida delasapresenta apenas um tímido reflexo da imagem de Jesus Cristo.
Ir à igreja não torna ninguém cristão, nem um cristão melhor. O coração precisa estar aberto ao processo de discipulado, que deve ocorrer na igreja a fim de se produzir frutos duradouros e promover transformação.
Hoje, é comum as pessoas considerarem a igreja uma casa de repouso, e não o hospital que ela deveria ser. Casa de repouso é aonde as pessoas vão para se sentirem confortáveis enquanto esperam a morte. Elas consideram a igreja um lugar para se sentir melhor, e não para ficar melhor.
O hospital, por outro lado, alia funcionários e estratégias com a finalidade de tratar da saúde de quem ali está. O hospital não se concentra em tentar fazer o paciente se sentir bem. Às vezes, os médicos precisam fazer incisões. Às vezes, precisam ministrar drogas. Às vezes, precisam fazer a pessoa sentir-se desconfortável. Mas tudo isso é feito para devolver-lhe a saúde.
Quando o objetivo de dirigir a igreja é dar às pessoas um lugar onde elas se sintam bem até que chegue a hora de sua morte, em vez de oferecer-lhes um local onde tenham saúde enquanto vivem, a intenção de Cristo para sua igreja fica prejudicada. Essa não é a igreja que Jesus Cristo fundou.
Ao falar do conjunto dos cristãos, Jesus referiu-se a uma instituição forte e saudável contra a qual nem mesmo o inferno prevaleceria. De fato, a palavra ecclesia, que às vezes é usada no Novo Testamento no sentido de igreja, remete a um conselho governante grego que legislava em favor da população. O conselho governante só podia governar se a saúde e a força de seus integrantes estivessem bem. Se os membros optassem por passar o tempo aguardando a morte chegar, procurando um lugar agradável para se reunir com os amigos, comer e cantar, o conselho não teria legislado bem em favor da comunidade.
A finalidade da igreja é ser muito mais que um clube social ou um local de entretenimento. É ser mais que um lugar para solteiros conhecerem companhias apropriadas. A finalidade da igreja é ser um grupo de pessoas chamadas para introduzir o governo de Cristo sobre a humanidade, aplicando-o e praticando-o de maneira relevante.
Quando Jesus falou da Igreja que resiste às forças das “portas do inferno” (Mt 16.18, RA), a palavra “portas” se referia ao lugar onde ocorriam as atividades legislativas. A porta era o lugar onde os líderes de uma comunidade se reuniam para legislar e tomar decisões em favor do povo.
No corpo de Cristo, o conceito de legislação é reforçado pelo fato de que as “chaves” são dadas à igreja para que ela tenha acesso à autoridade do céu e a exerça na terra (Mt 16.19). Jesus está posicionado à direita de Deus para governar do céu, e nós estamos posicionados com ele (Ef 2.6). É por isso que acredito que Deus costuma decidir o que vai fazer com base no que vê a igreja fazendo (Ef 3.10).
O propósito da igreja vai além de ser um simples lugar para inspiração espiritual ou análise da cultura na qual ela reside. O propósito da igreja, ecclesia, é manifestar os valores do céu no contexto da humanidade.
Esses valores só podem ser manifestados se aqueles que estão dentro da ecclesia os refletirem. A demonstração visível do reino de Deus na terra está ligada à quantidade de membros do corpo de Cristo que se apresentam como homens do reino ou mulheres do reino. Embora o contexto fundamental para se desenvolver mulheres do reino seja pelo núcleo familiar, esse processo também se estende além do núcleo familiar para a igreja local. É por isso que a responsabilidade eclesiástica de “cuidar” é explicada em termos femininos na Bíblia.
O objetivo da igreja é transmitir uma visão do mundo bíblica, de modo que as mulheres comecem a pensar e atuar como Jesus Cristo. Uma das prioridades principais de toda igreja deve ser a de ter um ministério feminino que ofereça às mulheres a oportunidade de discipular outras irmãs, de acordo com a filosofia de Tito 2. O objetivo da igreja é ter mulheres do reino encorajando e preparando outras mulheres para que também se tornem cidadãs do reino. Toda igreja deve manter sempre o foco no discipulado. Discipulado é aquele procedimento evolutivo da igreja local que busca os cristãos desde a infância espiritual até a maturidade espiritual, para que possam repetir o processo com outra pessoa. O fato de a cultura não oferecer um meio específico para transmitir às gerações futuras uma visão bíblica do mundo não significa que a igreja não deva oferecê-lo. Devemos refletir outra cultura — a cultura do reino.
Discípulos do reino
Se você quiser descobrir o que é mais importante para alguém, preste atenção às últimas palavras dessa pessoa. Se você deseja ser mulher do reino, precisa saber o que é mais importante para o Rei, para que também seja o mais importante para você. Pouco antes de subir ao céu, Jesus disse o que era mais importante para ele:
Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei com vocês, até o fim dos tempos.
Mateus 28.18-20
Evidentemente, a ordem de Deus para a igreja é fazer discípulos. Significa que a vontade dele é que você se torne discípula do reino. Ser discípula de Cristo significa tornar-se semelhante a ele (Mt 10.25). E você consegue isso não apenas indo à igreja, mas também quando a igreja propicia que a vida de cada um toque a vida dos outros. Na segunda carta de Paulo a Timóteo, ele diz especificamente: “E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros” (2.2). A palavra grega traduzida por “homens” nessa passagem é anthrōpos, que se refere a “um ser humano, homem ou mulher”.3 Deus espera que o discipulado seja realizado não apenas por homens, mas também por mulheres.
Há muito esforço sendo feito hoje em dia para tornar as mulheres fisicamente atraentes. Gasta-se muito dinheiro e tempo em moda, pele, cuidado com os cabelos e exercícios para que a mulher atinja a beleza máxima. No entanto, mesmo a mulher mais formosa deste planeta perde o charme e o magnetismo rapidamente quando abre a boca e revela feiura em seu interior. Muitas mulheres são alta- costura por fora e loja de liquidação por dentro. Quanto tempo e esforço são dedicados hoje para tornar as mulheres atraentes espiritualmente?
Em 1979, houve uma tentativa de incluir uma representação feminina na moeda dos Estados Unidos, com o dólar Susan B. Anthony.4 Infelizmente, o conceito não pegou. Um dos motivos principais foi que esse dólar parecia muito mais uma moeda de 25 centavos de dólar. Tinha o valor de 1 dólar, mas a aparência era de 25 centavos. Isso se assemelha com o que muitas mulheres tentam conseguir hoje em dia, isto é, querem ter a aparência de 1 dólar, mas com uma riqueza interna de apenas 25 centavos. Tal atitude gera os mais diversos tipos de confusão, decepção e desastre simplesmente porque as mulheres não desenvolveram, dentro da igreja, um sistema que produza mulheres do reino de qualidade e grande valor — por dentro e por fora.
Mulheres, Deus não quer que vocês pareçam 1 dólar e sejam apenas 25 centavos. Ele quer que seu valor espiritual interno se equipare aos esforços que você tem feito externamente para ser a manifestação plena da mulher do reino que ele imaginou ao criá-la.
Na carta de Paulo a Tito, o apóstolo apresenta instruções específicas às mulheres visando encorajá-las a ter uma vida que resplenda a plena glória que Deus planejou para cada mulher do reino:
Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a serem reverentes na sua maneira de viver, a não serem caluniadoras nem escravizadas a muito vinho, mas a serem capazes de ensinar o que é bom. Assim, poderão orientar as mulheres mais jovens a amarem seus maridos e seus filhos, a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em casa, e a serem bondosas e sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja difamada.
Tito 2.3-5
Acima de tudo, Paulo referiu-se especificamente às mulheres mais velhas. Note, por favor, que ele não disse mulheres “velhas”. Há uma diferença. Uma mulher mais velha não é necessariamente uma velha. Significa simplesmente uma mulher que concluiu a parte essencial de criar os filhos. Talvez seja uma mulher que tenha chegado à fase do ninho vazio. Mas não quer dizer que ela não trabalhe mais nem
participe das atividades de sua casa, igreja e comunidade. Significa que, em termos de ciclo de vida, os dias de educação de filhos provavelmente já ficaram para trás.
A idade física deve ser também proporcional à idade espiritual. Paulo estava falando das mulheres que aprenderam as lições espirituais da vida, cresceram e superaram muitas experiências desafiadoras. Estava falando de uma mulher que viveu o suficiente para ver o lado bom, o lado mau e o lado amargo que a vida tem a oferecer. No entanto, ela aprendeu o suficiente para estar em posição de transmitir lições valiosas às mais jovens. Ela foi exposta à verdade espiritual e a pôs em prática por um período razoável de tempo.
O uso de seus dons na igreja não é meramente acidental; é também crítico para a igreja tornar-se aquilo para o qual foi criada. As mulheres são livres para agir em qualquer aspecto do ministério da igreja, menos no que se refere à autoridade máxima.
Quando usou a palavra semelhantemente, Paulo estava chamando a atenção do leitor, ou ouvinte, para o que dissera anteriormente sobre os homens. No fundo, ele deseja que as mesmas qualidades que acabara de relacionar — “serem moderados, dignos de respeito, sensatos e sadios na fé, no amor e na perseverança” (Tt 2.2) — sejam também as qualidades de caráter das mulheres do reino. Essas qualidades de caráter se manifestam na reverência. A palavra reverente anda de mãos dadas com o conceito de adoração. Ao afirmar que as mulheres mais velhas devem ser reverentes, Paulo lembrou-se da imagem de uma mulher adoradora. Esse tipo de mulher considera tudo na vida como se fosse a representação de um Deus santo.
A reverência não deve ser demonstrada apenas quando a mulher está dentro da igreja; seu comportamento realça a reverência quando ela está fora da congregação e no modo como se comporta. Uma vida de adoração transmite a ideia de que tudo à sua volta é sagrado. Seja na igreja, em casa, no trabalho ou na comunidade, tudo o que você faz é para a glória de Deus, o Pai, e de Jesus Cristo, seu Filho.
Talvez você tenha sido educada por uma mãe ou avó que refletiram esse modo de vida; assim, entende o que Paulo estava falando. Eu fui educada dessa maneira. Minha mãe relacionava tudo na vida a uma conexão com Deus, de uma forma ou de outra. Queria que soubéssemos que Deus estava presente em tudo, e que tudo em nossa vida estava ligado à sua providência, participação e plano. Mesmo que aquilo que ela dizia ou fazia aborrecesse alguém, ela não abria mão de considerar tudo sagrado, porque vivia em atitude de adoração. Paulo mencionou que a maturidade espiritual da mulher do reino deve produzir uma vida de reverência e adoração.
É possível identificar uma mulher do reino por sua capacidade de refrear a língua. Vemos muitas mulheres na igreja que gostam de um mexerico. Para mostrar-se mais espirituais, dizem que estão “preocupadas”, “cuidando dos melhores interesses” de alguém, “observando” alguém ou “orando por” alguém. Mas as pessoas ao redor sabem que elas não estão “preocupadas” com ninguém o tempo todo; trata-se apenas de uma máscara para cobrir o pecado da fofoca.
Palavras injuriosas ou degradantes sobre uma pessoa que não participa da conversa indicam que você não está usando sua língua de acordo com a vontade de Deus. Tal conduta serve apenas para revelar sua imaturidade espiritual. Quem usa a língua para difamar os outros traz difamação para si mesmo. Trata-se de um sinal visível de infantilidade e falta de espiritualidade. Não importa a idade que você tem, a posição de influência que ocupa ou o título pelo qual é chamada, sua língua revela seu nível de maturidade espiritual, e é isso que Deus leva em conta quando procura uma mulher do reino a quem possa usar para sua glória e os projetos de seu reino.
Quanto mais a mulher amadurece, mais segura se torna de si mesma e de seu relacionamento com Deus. Isso a deixa livre para enaltecer os outros, ajudar os outros e não levar adiante um mexerico que acabou de ouvir. As mulheres que costumam ser mexeriqueiras — eu as conheço e você também sabe quem são — demonstram falta de espiritualidade.
Paulo ressalta outro aspecto da mulher mais velha: ela não é escravizada a muito vinho (Tt 2.3). A ideia aqui é que as coisas não sejam capazes de controlar a vida dela. Para ter uma vida vibrante, ela não precisa recorrer ao shopping center, à garrafa de vinho, ao clube social, aos antidepressivos. Essa vida vibrante tem origem em seu relacionamento com Jesus Cristo. A mulher espiritualmente amadurecida faz de Deus a essência de sua escolha.
Ensinando o que é bom
Um dos aspectos marcantes da mulher do reino tem a ver com o ministério de ensino. Toda mulher que criou filhos, enfrentou as batalhas do casamento ou lidou bem com a condição de solteira desenvolveu habilidades que precisam ser transmitidas àquelas que ainda não passaram por isso. Paulo disse que a mulher mais velha ensina o que é bom (Tt 2.3). Ela não ensina pelo simples prazer de ensinar. Também não ensina para se promover, aparentar ser importante ou ser o centro das atenções. A mulher experiente do reino transmite lições benéficas e úteis e procura investir na vida das mais jovens, que ainda estão aprendendo. Na igreja, toda mulher mais velha deveria ser professora, e toda mulher mais jovem deveria ser aluna.
Esse fato é especialmente crítico hoje, porque temos uma geração de mulheres mais jovens cuja vida se revela confusa cedo demais. E é difícil encontrar mulheres mais velhas maduras espiritualmente. As mais jovens necessitam de pessoas encorajadoras, que receberam o chamado para ajudar. O encorajamento inclui muito mais que informações em salas de aula, doutrina, estudo bíblico e coisas do gênero.
Encorajamento implica andar com alguém e prestar- lhe assistência. É mais que apresentar uma lição de três tópicos sobre o que significa ser mulher do reino. As mulheres do reino mais habilitadas devem oferecer mais que informações: devem oferecer experiência de vida.
Houve uma época em nossa cultura na qual os valores cristãos eram transferidos automaticamente. Houve um tempo em que as mulheres discipulavam outras mulheres, não porque existisse um programa para isso ou porque alguém lhes dissesse que deveriam fazer assim, mas porque era dessa forma que viviam. As mulheres mais velhas ensinavam às mais jovens as lições básicas quanto a cozinhar, limpar a casa, trabalhar, amar e cuidar de si mesmas e também do marido e dos filhos. As mulheres mais velhas ensinavam prioridades, valores, moralidade, modéstia etc. Apesar disso, com a ascensão da autonomia, autossuficiência e independência, essa relação
professora-aluna deixou de existir.
Hoje, quando as mulheres se reúnem para estudo bíblico ou pequenos grupos, isso raramente ocorre no formato professora-aluna. Todas na classe adquirem postura de mestras, e não há aprendizes. Ou todas começam a falar e querem ter a oportunidade de contar as próprias experiências ou relatar a experiência de outra pessoa, negligenciando todo o conceito de discipulado.
A reunião de um grupo de mulheres de várias gerações não constitui necessariamente um discipulado. O discipulado ocorre no contexto de um relacionamento permeado de responsabilidade. A atitude de quem ensina e a atitude de quem aprende devem ocupar o centro da discussão, a fim de que a transformação de vida esteja bem fundamentada.
No entanto, em algum lugar ao longo do caminho, a responsabilidade de aconselhar e liderar deixou de fazer parte não apenas da vida das mulheres, mas também da vida dos homens. A independência e autossuficiência às quais damos tanto valor tornam-se obstáculos ao modelo de discipulado bíblico que outras culturas apoiam com mais naturalidade e, até hoje, continuam a praticar de modo organizado. Muitas pessoas da igreja perderam esse espírito de discipulado e o substituíram por uma simples reunião.
Em razão disso, tornamo-nos muito ineficientes na igreja, embora tenhamos múltiplas reuniões, diversos estudos bíblicos e grande quantidade de pequenos grupos. Sem a prática do modelo apresentado por Paulo, a igreja não é eficiente. É necessário haver uma relação de professor e aluno. Não chegamos nem perto disso, o que explica por que muitas mulheres, embora atarefadas com coisas “espirituais”, não conseguem ser verdadeiras mulheres do reino.
O discipulado de Tito 2 dentro da igreja local envolve muito mais que mulheres se reunindo para o café ou almoço, para ser ouvidas, para fazer mexericos ou ou passar o tempo de uma forma que não inclua cuidados com o lar e a família. O discipulado consiste na transferência contínua de uma perspectiva de vida, partindo de quem já viveu e aprendeu e seguindo em direção a quem está ansioso por aprender.
Certa vez, uma mulher me contou que, enquanto frequentava outra igreja nas proximidades, ajudou a organizar o ministério de Tito 2. Várias mulheres mais jovens se inscreveram, ansiosas por tomar parte no processo de discipulado. No entanto, embora a igreja fosse considerada forte em termos doutrinários, e até maior que muitas outras igrejas de porte médio, não foi possível encontrar mulheres mais velhas, espiritualmente maduras, que aceitassem discipular as outras.
Essa carência no discipulado é confirmada pelo grande número de mulheres que gravitam em torno dos programas seculares de televisão que abordam essa prática. Existe dentro de nós o desejo de aprender e crescer. Isso torna esses personagens de televisão extremamente populares como mentores. Exemplo disso é a apresentadora Oprah Winfrey, além de outros consultores de comportamento, relações humanas e saúde. Hoje, há entre as mulheres um clamor pelo discipulado. Elas teriam grande desejo de ensinar se fossem colocadas junto de pessoas a quem respeitam e que lideram com confiança e encorajamento, sem difamação, menosprezo ou fofocas.
O propósito de ensinar é compartilhar coisas que as mulheres mais jovens não conseguem (ou não conseguiram) ver e ajudá-las a organizar a própria vida. Acima de tudo, Paulo destaca em Tito 2.4 que as mulheres devem amar seu marido. Isso também se aplica à preparação de mulheres solteiras para o casamento.
A princípio, essa parece ser uma orientação estranha. Por que você tem de ensinar e encorajar uma mulher a amar o homem por quem ela se apaixonou perdidamente e com quem se casou? É útil entender o contexto dessa passagem. Nos tempos bíblicos, a ideia de namorar antes de casar era inexistente. Eram os pais que escolhiam o cônjuge para os filhos. A situação no Novo Testamento era semelhante à de Isaque e Rebeca, que se casaram logo depois de se conhecerem.
Isso prova que é desafiador conseguir amar um marido desconhecido, com o qual você teve de se associar para ter um relacionamento íntimo. As mulheres que passaram pelo processo de aprender a amar o companheiro que lhes foi arranjado deviam ensinar o mesmo às mais jovens. Com base nessa passagem, sabemos que é possível amar biblicamente. Aprendemos o amor bíblico quando recebemos ensinamento da fonte correta. O amor bíblico não se baseia em divertimento, atração ou benefícios mútuos. Amor bíblico significa procurar, em nome de Deus, o que a outra pessoa tem de melhor. Enquanto permanecermos no centro de nosso universo, o amor será sempre uma luta. Amor pode ser definido como busca justificada e apaixonada pelo bem-estar de outra pessoa. Não há espaço para egoísmo nessa definição. Nem depende de gratificação pessoal.
Uma observação antes de prosseguirmos: isso não significa que uma mulher deva permanecer em um relacionamento abusivo e controlador. Quando o homem se afasta da liderança e do mandamento de Jesus e age de maneira violenta em relação à mulher com quem se casou, o amor não obriga ninguém a permanecer no casamento nem a permitir que esse tipo de conduta continue. Em geral, a atitude mais amorosa que a mulher deve ter é rebelar-se contra esse comportamento abusivo, para que o marido se responsabilize por isso, entenda que cometeu um erro e se submeta a Deus. Se você ama um homem violento, é necessário afastar-se fisicamente dele por um tempo, para não mais permitir que ele continue a viver em pecado. Quando isso acontece, é importante procurar a liderança da igreja para orientá-la no processo de separação. Em nossa igreja, temos uma assembleia semanal onde assuntos como esse, e outros, são analisados e administrados.
Honrando a Palavra de Deus
Paulo também exorta as mulheres do reino a ensinar e encorajar as mais jovens “a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em casa, e a serem bondosas e sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja difamada” (Tt 2.5). Ser prudente significa tomar boas decisões, com julgamento sensato. Isso só ocorre se adotarmos a perspectiva divina.
A pureza inclui ações e atitudes. As mulheres do reino entendem que a modéstia não se curva às tendências da moda. Você pode se apresentar bem e andar na moda, ainda que se vista de forma modesta. Modéstia pode ser definida como vestir-se de forma que não atraia atenção inadequada. Pode-se atrair atenção inadequada quando se usa pouca roupa (muito pequena? muito curta? muito apertada?) ou quando se recorre a exageros (roupas muito chiques?
extravagantes? chamativas?). Tenha em mente que a pureza vai além das roupas. A pureza envolve disposição de espírito — o que você pensa, vê, ouve, deseja e discute.
No capítulo anterior, analisamos as várias partes dessa passagem mantendo o foco na administração do lar; portanto, não vou entrar em detalhes aqui. Basicamente, Paulo estava exortando a mulher do reino a priorizar seu lar e não dar ouvidos a outras vozes competidoras. Mulheres, seu lar é um lugar espiritual. Ao cuidar dele, você não só adora a Deus, mas também obedece ao chamado sublime que ele fez para sua vida. Se você tem família — e isso inclui ser mãe solteira —, nunca se esqueça de que manter e criar sua família para a glória de Deus é um ato espiritual que o Senhor preza muito. Além de suprir suas necessidades por você tê-lo honrado e reverenciado sua Palavra por meio do que faz por sua família, Deus a honrará da mesma forma. Deus honra aqueles que o honram (1Sm 2.30).Mais especificamente, Paulo vinculou o caráter da mulher do reino ao princípio espiritual da honra à Palavra de Deus. As escolhas da mulher do reino quanto a seu modo de viver transcendem a cultura e o tempo. Na verdade, ao honrar a Palavra de Deus com seus pensamentos e ações, você fecha o círculo da armadilha na qual Eva caiu no jardim. Satanás contestou deliberadamente a Palavra de Deus perante Eva quando perguntou: “Foi isto mesmo que Deus disse…?” (Gn 3.1). Foi a própria desonra à Palavra de Deus que produziu a rebelião e o pecado de Eva.
Ao honrar as Escrituras, você está revertendo o pecado no jardim e chamando as bênçãos e a paz de Deus para sua vida. A obediência a esses ensinamentos estabelecidos por Paulo é uma atitude muito espiritual, com desdobramentos igualmente espirituais.
Treinando discípulos
Jesus poderia facilmente ter cumprido sozinho o seu ministério aqui na terra, viajando desacompanhado enquanto pregava, curava e ensinava. Mas ele decidiu levar doze homens sob suas asas e treiná-los a levar sua mensagem depois que ele voltasse para o Pai. Os doze discípulos de Jesus foram os fundadores da igreja primitiva e treinaram outros para fazer discípulos de todas as nações. A plantação que Jesus fez do evangelho no coração de doze homens continua a dar fruto no mundo inteiro até hoje.
Então, o que Jesus fez exatamente? Como podemos aprender com seu exemplo?
Primeiro, Jesus passou tempo com os discípulos. Ele era acessível. João 1.37-39 relata que dois discípulos quiseram saber onde Jesus estava hospedado. “Respondeu ele: ‘Venham e verão’. Então […] viram onde ele estava hospedado e passaram com ele aquele dia”.
Sei que muitas de nós temos pouco tempo para cuidar de nós mesmas, e muito menos para cuidar de outras pessoas! Estamos atarefadas, cansadas, esgotadas e estressadas. No entanto, não podemos permitir que o ritmo do mundo dite o ritmo no qual operamos — principalmente se esse ritmo interferir nas ordens de Deus para que sejamos seguidoras de Jesus.
Quando eu estava na escola, meus professores exigiam duas coisas enquanto eu treinava a escrita : 1) deixar margem à esquerda e à direita do papel; 2) pular uma linha. Eles pediam para fazer essas duas coisas por um motivo. Precisavam de espaço para escrever também! Precisavam fazer correções, apresentar sugestões e melhorar meu texto. Permita-me dizer a você que Deus quer a mesma coisa. Ele quer que você viva de tal forma que deixe espaço para ele lhe dizer como e com quem deve passar o tempo e como se expressar melhor, no sentido de se envolver com outras pessoas. Deixe margem — deixe espaço para as atividades e pessoas que Deus deseja trazer à sua vida.
Sei que você deve estar pensando: “E quanto a mim? E quanto ao meu tempo?”. Repetindo, vamos analisar a vida de Cristo. Nosso Salvador encontrou tempo para se recolher e estar com o Pai. Mas o segredo aqui é que Jesus passou seu tempo livre fazendo coisas importantes para o Pai. O tempo de Jesus era limitado, e ele sabia que não poderia perder nem sequer um minuto fazendo coisas que não se referissem à eternidade. Não podemos nos dar a esse luxo também.
O texto de Salmos 62.5 adverte: “Descanse somente em Deus, ó minha alma; dele vem a minha esperança”. Quando consideramos nosso tempo como se fosse dele, Deus nos diz como devemos gastá-lo e proporciona o descanso e o refrigério de que necessitamos. Não podemos nos ocupar fazendo coisas boas e depois usá-las como desculpa para não fazer as coisas melhores de Deus. Ele foi claro em sua Palavra sobre quais são essas coisas melhores.
Segundo, Jesus treinou os discípulos. Em Lucas 11, os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a orar, e Jesus exemplificou como a oração deveria ser. Para quem você é exemplo? De tudo o que você aprendeu ou sofreu, o que pode servir para ensinar outra mulher, para que ela não tenha de aprender pelo meio mais difícil?
Mãe, você está treinando seus filhos? A criação de filhos é uma missão proposital e intencional. Não acontece por osmose quando você os envia à escola bíblica dominical. No livro Professionalizing Motherhood [Profissionalizando a função de mãe], Jill Savage desafia as mães a assumirem o emprego de criar os filhos de modo tão sério quanto qualquer outro trabalho remunerado. Ela diz que, ao fazer isso, as mães têm o poder de causar um impacto extraordinário nos filhos para o reino de Deus.
Se você é uma mulher madura que se sente feliz por ser aposentada ou livre, isso não lhe tira o direito de treinar outras mulheres e ser exemplo para elas. O que você critica nas mulheres mais jovens no que se refere a comportamento, atitude ou vestimentas? Você é exemplo de conduta e disposição de uma mulher que ama a Jesus? Tem uma palavra de encorajamento para as mulheres mais jovens em sua esfera de influência? Treinar e ser exemplo não são atos de julgamento ou crítica, mas ações destinadas a alcançar o coração de outra pessoa e levá-la carinhosamente a um lugar mais alto em Cristo.
Você é uma mulher bem-sucedida em seu local de trabalho? Como compartilha sua sabedoria e experiência com as outras pessoas com quem trabalha, a fim de que usem seus dons, talentos e habilidades para a glória de Deus? O que você aprendeu sobre descobrir e desenvolver suas forças e maximizar seu potencial?
As possibilidades são infinitas. Toda mulher aprendeu algo, não importa até que ponto da estrada ela chegou. A pergunta não é se existe alguém que você possa discipular, treinar ou para quem possa servir de exemplo. Você precisa parar e perguntar a Deus quem é essa pessoa!
O que o Senhor lhe traz à mente enquanto você está lendo este livro neste momento? Uma pessoa da família, uma mulher mais nova, uma amiga ou uma criança? Que conexão Deus está lhe pedindo para fazer?
Por último, Jesus serviu aos discípulos. João 13.5 conta a história de como Jesus, o Filho do Deus vivo, parte da Santa Trindade, lavou os pés daqueles que o seguiam. Jesus não levou em conta quem ele era, de onde veio, que posição ocupava e o que outros lhe deviam. Ele serviu porque, ao fazer isso, ilustrou o maior ato de verdadeira maturidade — a disposição de se tornar acessível aos outros. Jesus, o mesmo que está sentado à direita de Deus, humilhou-se e fez o que não precisava fazer.
Jesus realizou algo aparentemente insignificante quando lavou os pés dos discípulos, mas foi esse mesmo espírito de humildade que o capacitou a suportar todo o fardo na cruz. Jesus não carregou o próprio fardo: ele se dispôs a carregar o fardo de outras pessoas que não mereciam seu sacrifício. E, ao fazer isso, ele mostrou a muitas pessoas o amor do Deus Pai.
Então, você é mãe espiritual de quem? (Essa pergunta vale principalmente em relação à sua igreja.) Em que aspectos de suas atividades diárias você está aplicando as palavras das Escrituras? Todo dia nascem mulheres na igreja. São novatas na fé cristã, novatas no casamento, novatas como mães solteiras, novatas por ter voltado à condição de solteiras, novatas em uma segunda carreira profissional, novatas na criação de filhos, novatas na vida espiritual, novatas na igreja. Muitas estão perguntando: “Você é minha mãe?”. Querem saber se você encontrará tempo para discipulá-las, treiná-las, servi-las e aproximá-las do Senhor.
Você deve estar perguntando o que as mães espirituais e o aconselhamento de Tito 2 têm a ver com a igreja local. Uma das formas usadas em nossa igreja é proporcionar uma estrutura de aconselhamento por meio de pequenos grupos. As mulheres se reúnem duas vezes por mês para confraternização e encorajamento enquanto discutem a aplicação da verdade com base no sermão.
Outra forma que usamos para incentivar a comunhão e a confraternização é por meio de classes especiais organizadas para atender às necessidades das mulheres. Algumas dessas classes dão maior atenção a uma fase da vida, como educação dos filhos, casamento ou a melhor maneira de se tornar uma mulher piedosa. Outras classes se concentram na cura e na recuperação de situações complicadas, como vícios, problemas emocionais ou dívidas. Embora durem apenas determinado período de tempo, essas classes proporcionam uma oportunidade para as mulheres se enturmarem com outras que estão trilhando a mesma estrada que elas.
Nessas classes, as mulheres compartilham com outras os benefícios de usar seus dons (cabeleireiras, cozinheiras, organizadoras etc.). A igreja é um lugar maravilhoso, onde você pode usar os dons que Deus lhe deu! Às vezes, é necessário ser criativa ou descobrir novas formas de usar suas experiências e conhecimentos na vida para impactar outras pessoas, fortalecer a igreja ou promover o reino. Deus lhe concedeu dons específicos para serem usados para os propósitos dele na igreja. É muito importante usar seus dons e experiências para dar uma injeção de ânimo na igreja.
Por último, as mulheres encontram tempo para se divertir juntas nos eventos femininos realizados durante o ano. Nossa reunião anual de mulheres é um desses eventos; nela é traçada a programação do ministério de mulheres para o ano seguinte. Além dessa reunião, há os “Supersábados de Tito 2”, nos quais as mulheres se juntam duas vezes por ano para um dia inteiro de confraternização, incluindo assembleia geral, momentos de bate- papo e sessões sobre vários tópicos, interesses comuns, passatempos e fases da vida. E elas sempre reservam um tempo para recreação! Os passeios e as reuniões ajudam as mulheres a se conhecerem melhor e a ter boa convivência, sabendo que nenhuma mulher na igreja está sozinha.
O ministério da mulher do reino
Tenha em mente que ministrar e amar uns aos outros com os dons e talentos que Deus lhe deu são ações que devem ultrapassar as paredes da igreja. Um bom começo é ajudar crianças carentes. As crianças que hoje vivem em um núcleo familiar são minoria. Dar- se ao “luxo” de ter pai e mãe em casa não é uma realidade para a maioria dos pequenos. Pais e mães solteiros precisam trabalhar em dois empregos para pagar as contas e não podem ficar em casa como gostariam. Essa ausência dos pais para orientar os filhos deixa um espaço vazio na vida emocional e espiritual deles.
Uma das maneiras pelas quais você, mulher do reino, pode causar impacto na sociedade é estender o trabalho de sua igreja, firmando parcerias com escolas públicas onde possa ser realizado. Isso inclui aconselhar, orientar ou proporcionar outra forma de serviço de amparo às famílias. A National Church Adopt-a-School Initiative [Projeto Adote uma Escola] treina igrejas e líderes de igrejas para levarem adiante esse exemplo missionário local. Trata-se de uma estratégia gradativa para maximizar os dons e talentos do corpo de Cristo e potencializá-los para o reino.
Toda mulher do reino precisa ministrar a outra mulher por meio de sua igreja. Para entender o significado do discipulado, é preciso haver oração e orientação de Deus. Sua tarefa é recorrer ao Senhor em busca de sabedoria para descobrir se o que você recebeu, experimentou ou suportou na vida seria uma bênção para outra pessoa. Se necessita de discipulado, sua tarefa é orar a Deus para que ele lhe mostre uma mulher capaz de falar da vida dela com você e ajudá-la a crescer na fé, para que você experimente todas as possibilidades que Deus planejou para sua vida.
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