MULHER DO REINO: O FRUTO DA MULHER DO REINO - POSSIBILIDADES - PARTE 4
A MULHER DO REINO E SUA COMUNIDADE
O ano era 1955; o local, Montgomery, Alabama. O ambiente exalava o cheiro tóxico do veneno racial predominantemente manifestado na segregação sulista liderada por Jim Crow. Embora apenas alguns centímetros separassem a fileira onze da área dos assentos reservados aos brancos no ônibus dirigido por James F. Blake, aquilo representava o abismo que existia entre igualdade e justiça vividas por cidadãos brancos e negros naquela época.
Sentada na fileira onze estava uma mulher discreta, introvertida, mas determinadamente forte, chamada Rosa Parks. Um homem branco entrou no ônibus, e o motorista — um homem que havia pegado o dinheiro de Rosa e acelerado antes que ela tivesse tempo de subir pela entrada dos fundos do ônibus — tentou humilhá-la mais uma vez. Rosa reconheceu seu rosto quando ele se virou para dizer a ela que se levantasse para dar lugar ao branco. Quem esqueceria aqueles olhos, frios como aço e desprovidos de sentimento?
Pouco antes naquele ano, Rosa frequentara um curso sobre injustiça econômica e social, no qual foi discutido o conceito de protesto não violento. No entanto, como investigadora principal designada para casos de abuso sexual cometidos por brancos contra negras durante a década anterior — incluindo o abominável estupro de Recy Taylor por uma gangue —, Rosa sabia muito bem o que a desobediência àquela ordem acarretaria. Ela tinha todo o direito de se auto preservar e sair do lugar.
Mesmo assim, conforme Rosa comentou mais tarde, a lembrança do brutal assassinato do jovem negro Emmett Till nas mãos de homens brancos voltou-lhe com força à mente quando James F. Blake ordenou que ela se levantasse. E, em razão disso, Rosa não se levantou, apesar do risco que corria.
E assim Rosa Parks continuou sentada na fileira onze. Dizem que as ações falam mais alto que as palavras, e que é possível saber exatamente em que a pessoa acredita se observamos o que ela faz. Os lábios de Rosa nunca deram uma explicação para o homem branco em pé ao lado dela, com ares de dono do mundo, esperando para sentar. Mas as ações daquela mulher de 42 anos falaram tão alto que a nação inteira ouviu.
Essa decisão simples, porém extrema, de se recusar a ceder o lugar a um homem branco que o exigira, para não mais aceitar a indignidade de ser uma cidadã de segunda classe e proclamar seu valor e direito como filha de Deus, alterou para sempre a história dos Estados Unidos. Esse único ato fez nascer e amadurecer o Movimento dos Direitos Civis conforme o conhecemos, melhorando a vida de um sem-número de pessoas, tão somente porque Rosa decidiu manter e conservar sua dignidade.
Rosa e Raymond, seu marido, não tiveram filhos biológicos. No entanto, ela será sempre lembrada como mãe do Movimento pela Liberdade. Ela tem uma multidão de filhos. Sua influência foi intensa, e seu legado, muito importante.
Como mulher do reino, você foi chamada para cuidar de si, amparar sua família, criar seus filhos e honrar seu marido, mas foi chamada também para causar um grande impacto para o reino de Deus. Você não deve negar os outros propósitos de sua vida, mas não deve se limitar a eles. O destino da mulher do reino ultrapassa os limites de sua casa. Ela deixa um legado para sua comunidade e, possivelmente, para seu país e o mundo.
Ester
Da mesma forma que escolheu uma mulher chamada Rosa para pôr em ação a maior mudança cultural registrada na história dos Estados Unidos, Deus usou as mulheres da Bíblia para causar impacto na comunidade em que viviam e também em sua nação. Uma delas foi Ester.
Ester era uma diva. No livro que leva seu nome, ela é descrita como uma mulher “atraente e muito bonita” (2.7). Seu nome significa “estrela”. Seja qual for a carga genética responsável por gerar essa mulher do reino, isso definitivamente trabalhou em seu favor.
Apesar das bênçãos constitutivas de Ester, ela enfrentou muitos obstáculos externos. Órfã desde criança, foi criada por seu tio Mardoqueu. Morando como raça minoritária em uma terra estranha, sem muito dinheiro no nome deles, Ester e Mardoqueu enfrentaram dificuldades terríveis por terem sempre de vencer os preconceitos persas.
Ester, porém, venceu esses preconceitos com sua própria experiência de Cinderela e o sapatinho de cristal. Tendo conquistado o coração do rei por meio de um longo processo de seleção da próxima rainha (depois que o rei Xerxes baniu a rainha Vasti de sua posição), Ester obteve a honra de ser chamada nova rainha da Pérsia.
Em palavras mais simples, nossa menina Ester estava subindo na vida.
Logo depois de ter chegado à realeza, Ester enfrentou um dilema. Seu povo seria aniquilado pelo malvado Hamã por meio de um decreto legal e irreversível que o marido dela, o rei, havia assinado. Ester logo descobriu, após uma explicação dada por seu tio Mardoqueu, que ela chegara à posição de rainha “para um momento como este” (4.14).Depois da hesitação inicial de Ester quanto a arriscar a vida em favor de seu povo, Mardoqueu lhe explicou que, se ela não assumisse uma posição, Deus escolheria outra pessoa para libertar seu povo. Ester guardou as palavras de Mardoqueu no coração, pediu aos que a rodeavam que jejuassem e orassem por três dias e aproximou-se do rei para buscar seu favor, correndo o risco de perder a vida.
Para quem não conhece a história, o rei estendeu seu cetro de ouro, a vida de Ester foi preservada e ela conquistou para seu povo, os israelitas, o direito de se defender contra o extermínio. Em consequência disso, os israelitas pegaram as armas, não apenas para defender-se, mas também para derrotar os agressores. E Hamã foi dependurado na mesma forca que construíra para Mardoqueu.
A valentia e a coragem de Ester, bem como sua posição de influência, fizeram dela uma mulher de grande valor do reino. Sozinha, ela garantiu o direito de salvar um grupo inteiro de pessoas.
Embora essa história tenha ocorrido há muito tempo em um reino bem distante, os princípios da vida de Ester são tão importantes quanto seriam se tais eventos ocorressem hoje. Você já parou para pensar que Deus talvez a tenha colocado aqui em seu reino “para um momento como este”? Já pensou nas possibilidades de ter, por meio de Cristo, um poder tão grande a ponto de causar impacto em sua família, igreja, comunidade e, possivelmente, em seu país?
O reino de Deus inclui sua ordem, seus propósitos e seus planos. Há um princípio dominante no reino: você é abençoada para ser uma bênção. É libertada para libertar. É redimida para redimir.
Talvez você tenha sido abençoada com uma excelente educação, uma aparência física favorável ou até uma boa vida. Seja o que for que Deus lhe concedeu — talento, dom ou capacidade única na vida — ele fez isso intencionalmente. Além de acumular suas bênçãos, você pode usar a posição que ele lhe deu para cumprir seus propósitos na vida das ao redor.
Débora
O ano era aproximadamente 1050 a.C. O local, debaixo de uma tamareira plantada nos montes de Efraim, entre Ramá e Betel. Era uma época em que todo homem e toda mulher faziam o que lhes parecia certo. O humanismo tomara conta em nome do culto a Baal, enquanto o Deus verdadeiro havia sido marginalizado.
Depois dos reinados corajosos de Josué e dos primeiros três juízes — Otoniel, Eúde e Sangar —, Israel mais uma vez deixou de seguir os mandamentos divinos e começou a adorar ídolos. Em consequência disso, Deus entregou os israelitas nas mãos das nações pagãs vizinhas. Ele fez isso a fim de trazer seu povo de volta e, para tanto, permitiu que Jabim, rei de Canaã, e Sísera, seu general perverso, oprimisse os judeus por vinte anos. Foi durante esse período que Deus designou uma mulher chamada Débora para servir aos israelitas de uma forma única e especial. Além de ser a primeira juíza em Israel, ela recebeu de Deus o dom de profetizar.
Como juíza, Débora tomava decisões nas disputas entre os israelitas. Passou a ser conhecida como juíza sábia, e muitas pessoas a procuravam e vinham de longe para encontrar-se com ela debaixo da tamareira que levava seu nome.
Como profetisa, Débora tinha capacidade de discernir a mente e os propósitos de Deus e transmiti-los ao povo. Conforme seu nome indica (Débora significa “abelha”), ela foi uma mulher que conduziu as pessoas sob sua influência com sabedoria doce como mel, mas possuía um ferrão mortal para aqueles que procuravam subjugar seu povo, os judeus.
Ninguém sabe por que Débora escolheu como tribunal o local debaixo da tamareira, onde ela resolvia as disputas como juíza. Alguns especulam que, por ser mulher, não seria culturalmente certo ela se encontrar com homens em ambientes fechados. Seja qual for o motivo, Débora se tornou uma profetisa e juíza muito procurada e respeitada, cujas decisões verbalizavam o que se passava no coração de Deus.
Era ali, ao ar livre, que Débora também advertia os israelitas das consequências de adorar ídolos e insistia com eles para que voltassem a servir a Deus. Assim que um número cada vez maior de israelitas começou a responder aos chamados insistentes de Débora e voltou a seguir a Deus, o Senhor instruiu Débora a enfrentar o perverso rei cananeu e seu general na batalha. Ela então convocou um homem chamado Baraque, comandante do exército israelita e um levita, e deu-lhe esta instrução:
O SENHOR, o Deus de Israel, lhe ordena que reúna dez mil homens de Naftali e Zebulom e vá ao monte Tabor. Ele fará que Sísera, o comandante do exército de Jabim, vá atacá-lo, com seus carros de guerra e tropas, junto ao rio Quisom, e os entregará em suas mãos.
Juízes 4.6-7
Baraque também era profeta, por pertencer à tribo de Levi. A sabedoria de Débora levou-a a reconhecer que a batalha contra Sísera não seria apenas uma luta física; era também um combate espiritual. Débora sabia que, para vencer uma batalha espiritual, a luta deveria ser travada no campo espiritual. Portanto, ela convocou Baraque para representar os israelitas como seu sacerdote. Na cultura judaica, as mulheres podiam ocupar altas posições de liderança dentro do governo, até na esfera espiritual como profetisas, mas não podiam ser sacerdotisas. Débora sabia que, para vencer uma batalha espiritual, a luta precisava ser vencida nos céus.
Contudo, houve um tempo na história israelita em que parecia haver poucos homens vivendo como homens do reino, por isso até o sacerdote a quem Débora pediu que comandasse a batalha hesitou sob a pressão de lutar contra forças poderosas. Diante da ostentação dos cananeus, com seus novecentos carros de ferro e um número muito maior de soldados que o que os israelitas conseguiriam reunir, a batalha seria vencida — pelo menos na teoria — pelos cananeus. Débora recebera a palavra de Deus de que a vitória pertencia aos israelitas, de modo que ela teve fé no desfecho. Baraque, no entanto, não demonstrou a mesma fé e replicou hesitante: “Se você for comigo, irei; mas se não for, não irei” (Jz 4.8). Em resumo, ele não estava disposto a ser um homem do reino.
Ao ver tal falta de fé, Débora informou a Baraque que a honra de derrotar Sísera não mais pertenceria a ele, mas a uma mulher (v. 9).
Débora acompanhou Baraque a Quedes, onde os exércitos marchariam para a batalha. Quando eles começaram a marchar, Deus provocou uma grande confusão no meio dos cananeus, derramando chuvas torrenciais, até que “todo o exército de Sísera caiu ao fio da espada; não sobrou um só homem” (v. 16).
Não sobrou um só homem, exceto o próprio Sísera, que conseguiu fugir a pé, acabando por se esconder na tenda de Héber, o queneu fabricante de tendas. Jael, mulher de Héber, abrigou Sísera em sua tenda e prometeu dar-lhe descanso e água.
Jael cumpriu a promessa da água e ofereceu leite para Sísera beber. E cumpriu também a promessa do descanso. Deixou-o adormecer profundamente. Depois, ela pegou uma estaca da tenda e cravou-a na têmpora de Sísera, pondo um fim às ações cruéis de um dos mais temidos generais cananeus de todos os tempos.
Uma mulher conduziu o exército israelita à batalha depois de profetizar sua vitória, e outra mulher terminou o trabalho de derrotar o adversário, tirando a vida do perverso general Sísera. Tanto Débora como Jael foram mulheres do reino cuja coragem as capacitou a conduzir Israel a um período de paz e renovação espiritual.
Naquela batalha, Débora protegeu seus filhos espirituais (a nação de Israel) da desgraça e da opressão (proteção física), da desgraça do culto a Baal e da adoração de ídolos (proteção espiritual). Ela os conduziu a um período de libertação física e espiritual. De todos os juízes, Débora é a única mencionada como alguém que julgou e profetizou. Ela recebeu um chamado único que resultou na vitória de seu povo e em quarenta anos de descanso para Israel.
Os relatos históricos de Débora e Israel mostram que Deus escolhe mulheres para proclamar seu reino na terra, particularmente quando os homens deixam de assumir a posição de liderança no campo que o Senhor lhes destinou.
Da mesma forma que Rosa Parks, Débora e seu marido, Lapidote, não tiveram filhos biológicos, mas Débora deixou um legado formal como mãe de Israel (5.7).
Mulheres, vocês receberam um chamado sublime com um propósito sublime. Deus lhes concedeu o poder de realizar tarefas extraordinárias, capazes de mudar uma nação inteira. Infelizmente, muitas mulheres de hoje não conseguem enxergar nada além de sua vida pessoal. Talvez a explicação seja esta: elas estão muito atarefadas e distraídas fazendo coisas “boas” como Marta. Não tenho certeza. Mas de uma coisa eu sei: lemos na Bíblia que Deus distingue funções de cargos, mas, ao revelar sua verdade, ele não faz distinção entre homens e mulheres. Deus capacita e chama homens e mulheres para proclamar seu reino na terra.
Em outra viagem a Nova York com minha mulher, visitei uma das lojas Macy’s. Do lado de fora da loja, havia vitrinas com fileiras de manequins para atrair a atenção das pessoas e convidá-las a entrar. Naquele dia em particular, notamos uma aglomeração diante das vitrinas. Decidimos, então, ver o que estava acontecendo. Quando chegamos mais perto, parecia que as manequins estavam piscando os olhos. Depois de observar mais atentamente, percebemos que se tratava de modelos vivos que posavam como manequins na tentativa de direcionar a atenção do povo para o reino que elas representavam: a Macy’s.
Quando as pessoas começaram a perceber que se tratava de modelos vivos, começaram a mexer as mãos e a fazer caretas para tirá-las da posição em que se encontravam. Os adultos faziam todos os tipos de contorções para perturbar as modelos. Elas, no entanto, permaneceram firmes no propósito que assumiram, despertando a curiosidade de muitas pessoas que entraram na loja, seduzidas pelo atrativo. As modelos conseguiram cumprir seu propósito porque não se deixaram levar pela comoção. A função delas era causar impacto nas pessoas que passavam por ali, e não ser impactadas por elas. Como mulher do reino, você representa um Rei de outro reino que a colocou aqui na terra como uma antecipação de tudo o que ele oferece e é capaz de suprir. Sua missão é causar impacto em sua família, igreja, comunidade e mundo — isto é, em todos os que passam perto de você — em vez de ser impactada por eles. Há muitas vozes tentando distraí-la, e muitas dessas vozes são positivas, mas Deus lhe deu um propósito: ser representante dele e de seu reino na terra.
Como no caso de Rosa Parks, você terá de correr riscos. Como no caso de Ester, você precisará manter o foco. Como no caso da samaritana, você precisará ter coragem. Como no caso de Débora, você precisará ter fé. E como no caso de todas elas, o fruto produzirá um legado resultante do poder da graça de Deus e digno do nome de Cristo.
Mulheres, não se esqueçam de que foi uma mulher do reino que causou o maior impacto na história da humanidade. Maria deu à luz o Salvador do mundo, que oferece o caminho da redenção a todos os que invocam seu nome e creem nele. Maria, jovem e sem a ajuda de ninguém, preferiu a fé ao medo quando proclamou corajosamente ao ouvir a mensagem de Deus para sua vida: “Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra” (Lc 1.38).
Que essa seja também a sua proclamação do reino. E, então, relaxe e pense nas maravilhas que Deus fará a você e por seu intermédio.
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